segunda-feira, 26 de março de 2007
Essa mulé disse.
E disse de uma maneira simples em entrevista ao jornal O Globo, de sábado.
Em primeiro lugar, ela destaca dois aspectos funestos que podem comprometer (e efetivamente comprometem) a instituição casamento: um, a crença de que o casamento pode ser um remédio para todos os males existenciais. Outro, a obrigação de ser feliz, praga que assola a maioria da população.
Ela cita o mega-investimento que se faz no amor e na desilusão que isso pode acarretar.
Quando se divorciam, ela diz, as pessoas no fundo acreditam "que existe uma pessoa com quem podem ter tudo, simplesmente não escolheram a pessoa certa."
E toca a procurar a tal "alma-gêmea".
Segundo Perel, o problema é que queremos tudo do casamento.
Tudo e mais um pouco: estabilidade, suporte econômico, filhos e, no pacote, ter um melhor amigo, um confidente e um amante profissional.
Não é à toa que damos com os burros n'água, certo?

Momentos mais interessantes da entrevista:

¬ "É contraditório procurar excitação e aventura no mesmo lugar em que se busca estabilidade e segurança".

¬ "O modelo relacional de hoje é o da transparência, de compartilhar tudo, de igualdade. São valores fundamentais, mas tiveram consequências na vida sexual que não previmos. O modelo igualitário neutraliza o poder, desfaz as diferenças. Mas não podemos neutralizar o poder do desejo sexual. Desejar algo embute certa agressividade no sentido positivo. Quando digo que quero ser desejada, há poder nisso, me sinto poderosa".

¬ "O amor quer ter. E o desejo quer querer. Para querer tem que ter intensidade e a busca de algo que não temos. Desejamos mais o que não possuímos. O mistério é a idéia de ter sempre algo por descobrir. O mistério nos agrada, mas não dentro de casa. Os mistérios nos desestabilizam. E depois os casais se queixam de tédio! Mas são eles que constroem a previsibilidade para si e começam a achar que a aventura está fora de casa".

¬ "Compartilhar tudo erradicou a privacidade de homens e mulheres. A privacidade aumenta a intimidade, pois aumenta o mistério. Não há permissão para a autonomia dentro do casamento. Mas as pessoas confundem isso com segredo, este sim acaba com a intimidade. É preciso espaço, distância para o encontro erótico acontecer".

¬ "São as expectativas exageradas que destroem o casamento (...)".

¬ "As pessoas acreditam que se não têm sexo a cada dois dias com seu parceiro, elas têm problemas. (...) Pode-se fazer sexo todos os dias sem conexão erótica. E há quem faça sexo uma vez por mês com muita intensidade erótica".


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Apesar do jeito de Martha Suplicy (a moça é terapeuta) e o tom de auto-ajuda da entrevista, devo dizer que concordo com tudo.
E digo mais: a culpa é toda dos gregos. Sim, dos gregos.
Dessa herança miserável que nos deixaram. Berço da civilização, humpf!! Sei.
Somos herdeiros dessa tradição metafísica que afirma que, em algum lugar, existe uma certeza hiperbólica para cada fato da vida. Você pode não ter encontrado, mas que existe existe. Eu acho tudo isso uma fonte inesgotável de sofrimento inútil.
Estou casada pela segunda vez. E tenho certeza de que se não tivesse cuidado devidamente da minha cabeça (não que ela tenha ficado 100%...), o segundo casamento também já teria ido pro beleléu. E eu me sinto tranquila hoje apesar do casamento.
Das dúvidas que ele provoca.
Das frustrações.
Porque eu tenho certeza de que fiz uma escolha e me sinto tranquila por isso.
Não porque encontrei uma pessoa que me completa de maneira sensacional. Isso não é verdade. A única verdade, na minha opinião, é que casar é uma empreitada difícil e que as coisas não melhoram simplesmente porque você mudou de parceiro.
Claro, eu tenho certeza de que, na primeira vez, escolhi um parceiro errado (sim, a palavra é essa).
Tudo porque eu acreditava que naquele momento ele me completava. Coisa mais besta de se pensar. Eu vi o que queria ver. E joguei uma cortina de fumaça no restante. Quando ficou claro que não dava pra seguir em frente, desisti e continuei na busca.
Mas se eu não tivesse mudado a maneira de enxergar a dinâmica das relações e o próprio casamento, seria como trocar seis por meia-dúzia.
Ainda que eu tenha certeza absoluta de que meu companheiro hoje seja um ser humano infinitamente melhor do que o outro. Mais íntegro, com valores que eu realmente prezo.
Outra certeza é de que só amor, esse amorzinho que a gente se acostumou a ver por aí, na mídia, nos filmes, esse só não basta. Se é que ele existe mesmo. Eu sempre digo que aquilo que chamamos de amor é, na verdade, um grande pacote, onde estão colocados coisas distintas e importantes, afinidades, respeito pela integridade do outro e por si mesmo, coincidência de valores e de 'visões' de mundo, defeitos que se complementam e otras cositas.
Como diz uma amiga minha, e eu assino embaixo: "(...) casar é o que fazem os românticos, sonhadores, os corajosos, os que crêem, os assumidos".

Nada a ver com esse romantismo meia-boca que anda por aí.

Resumindo, pra casar e manter um casamento é preciso abrir mão da nossa enorme e encroada hipocrisia.

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posted by KK Camilla at 17:58 |


1 Comments:


At 27 de março de 2007 às 16:49, Anonymous Anônimo

Assino em baixo.Casamento é uma empreitada mesmo, que requer sangue de barata...hahahaha.Brincadeira!!!!!(eu e o meu lado nada romântico).
Bjão miga...ótimo post.
Te amo