Eu me preocupo com a garota perdida em Londrina, por mais que ela saiba se virar bem. Me preocupo com a programação da tv a cabo, com os novos seriados que eu não vou ter como ver e com os antigos que eu já não consigo acompanhar. Me preocupo com a dor de cotovelo da Jennifer Aniston ao ver Brad e Angelina adotando e fazendo bebês, e posando em revistas com sua felicidade de plástico. Me preocupo que cada ator do elenco de Friends se estabeleça em outro seriado. Que os meus diretores queridos continuem fazendo bons filmes. Me preocupo com a revolução que a internet provoca na vida das pessoas, e com a minha parcela de responsabilidade pelo que eu coloco na rede, seja no trabalho ou em casa. Eu me preocupo com os milhares de corações que serão partidos sem que nada possa ser feito a respeito. Com aqueles que ainda acreditam. Com aqueles que são felizes, por desconhecerem a verdadeira tragédia que é estarmos todos perdidos, agora, nesse exato momento. Me preocupo com os que enxergam mais longe, que percebem mais que os outros, e que perdem as esperanças. A ignorância pode ser absolutamente libertadora.
Eu me preocupo com o lugar onde eu serei enterrada. Eu me preocupo se alguém da família de um amigo morreu e eu não sei. Me preocupo porque eu não estava lá com ele quando ele fechou os olhos e morreu. Eu me preocupo com todos aqueles que, em algum momento, fizeram parte da minha vida, e que hoje não fazem mais. Com todos os que me adoram e com todos os que me odeiam. Eu me preocupo com os absurdos que eu já disse. Eu me preocupo que eu me orgulhe de alguns absurdos que eu já disse para magoar pessoas. Com a minha capacidade de virar prós em contras e de atacar quando me sinto acuada. E de me vingar quando me sinto injustiçada.
Eu me preocupo com todos aqueles que apanham por causa de preconceito, com os rumos que algumas pessoas resolvem dar às suas vidas. Me preocupo com o preço daquele patê delicioso que descobri no supermercado e que amo desde então. Com meu vício em Coca-Cola e em coisas que entopem artérias. Com as formigas que invadiram meu apartamento, e que me vencem dia após dia. Com a mancha de oléo na minha blusa nova e com meu vestido preferido que abriu a costura, mas que eu tenho medo de costurar e estragar. Com a minha péssima atuação em fotos. É inacreditável como eu fico horrível em todas elas. Eu me preocupo com a minha péssima pronúncia em inglês e em desperdiçar momentos importantes por preguiça, comodismo e conformismo. Eu me preocupo com a Ana, com quem eu não falo há quase um ano. Com a nuvem de preocupação sobre a cabeça do Fabiño, e sobre a qual ele não quer falar, e que eu respeito. Com cada um dos meus amigos, com cada semana que eu não os vejo. Com o fato de na caixinha de Mentos existir um novo sabor, que eu odeio. Com o fato de terem parado de fabricar Trident sabor pêssego e maçã verde. Com a escassez de vendedores de balas Juquinha no meu mundo. Com os altos preços das lojas que eu gosto, com a ausência de roupas legais nos magazines. Com o meu vício em açúcar e cafeína. Com gente que não se posiciona, com o governo que me decepcionou, com toda a bagunça que se estabeleceu. Com a máquina mágica de doces do bloco 10, que de vez em quando surta, engole as moedas e não libera o pedido. Diz apenas have a nice day e não se fala mais nisso. Com todas as outras coisas que a gente investe e não tem retorno, e que, quando muito, recebe em troca apenas um have a nice day.
Eu me preocupo com a minha conta bancária e com todas as coisas que eu tenho e não preciso. Com todas as roupas que eu comprei pra usar e que não me servem mais. Como todas que eu tenho que comprar para poder vir trabalhar. Com o chuveiro pingando, com todas as músicas que eu não vou ouvir nunca e que eu adoraria, se ouvisse. Com o fato de que eu falo com a Sela cada vez menos. Com cada foto da época aurea do Barraco que eu não apareço, porque eu não estava lá. Porque eu reclamava da distância, do horário, do tempo. E esse tempo não tem volta, e eu não estou nas fotos. Eu me preocupo com o que já foi, com o que é e com o que ainda vai ser. Mais do que deveria, mais do que gostaria.
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